Como disse na postagem anterior ‘Esse tempo de
distanciamento social e de reclusão me provocou a buscar outro e novo desafio’.
Nestes dias me encontrei, por acaso, com dois textos
lindos.
Lembrei-me como gostava de ler poemas e poesias,
mas há tanto não me dou tempo e nem espaço. Então nesse processo de reflexão
sobre meu papel para com a humanidade e com a abertura a novos desafios quero
compartilhar com vocês a minha satisfação...
Primeiro:
“INTERSER” (de “O Coração da Compreensão”)
Por Thich Nhat Hanh
“Se você for um poeta, verá claramente que há uma
nuvem flutuando nesta folha de papel. Sem uma nuvem, não haverá chuva; sem
chuva, as árvores não podem crescer e, sem árvores, não podemos fazer papel. A
nuvem é essencial para que o papel exista. Se ela não estiver aqui, a folha de
papel também não pode estar aqui. Logo, nós podemos dizer que a nuvem e o papel
intersão. “Interser” é uma palavra que não está no dicionário ainda, mas se
combinarmos o prefixo “inter” com o verbo “ser” teremos este novo verbo
“interser”. Sem uma nuvem, não podemos ter papel, assim podemos afirmar que a
nuvem e a folha de papel intersão.
Se olharmos ainda mais profundamente para dentro
desta folha de papel, nós poderemos ver os raios do sol nela. Se os raios do
sol não estiverem lá, a floresta não pode crescer. De fato, nada pode crescer.
Nem mesmo nós podemos crescer sem os raios do sol. E assim nós sabemos que os
raios do sol também estão nesta folha de papel. O papel e os raios do sol
intersão. E, se continuarmos a olhar, poderemos ver o lenhador que cortou a
árvore e a trouxe para ser transformada em papel na fábrica. E vemos o trigo.
Nós sabemos que o lenhador não pode existir sem o seu pão diário e,
consequentemente, o trigo que se tornou seu pão também está nesta folha de
papel. E o pai e a mãe do lenhador estão nela também. Quando olhamos desta
maneira, vemos que, sem todas estas coisas, esta folha de papel não pode
existir.
Olhando ainda mais profundamente, nós podemos ver
que nós estamos nesta folha também. Isto não é difícil de ver, porque quando
olhamos para uma folha de papel, a folha de papel é parte de nossa percepção. A
sua mente está aqui dentro e a minha também. Então podemos dizer que todas as
coisas estão aqui dentro desta folha de papel. Você não pode apontar uma única
coisa que não esteja aqui- tempo, espaço, a terra, a chuva, os minerais do
solo, os raios do sol, a nuvem, o rio, o calor. Tudo coexiste com esta folha de
papel. É por isto que eu penso que a palavra interser deveria estar no
dicionário. “Ser” é interser. Você simplesmente não pode “ser” por você mesmo,
sozinho. Você tem que interser com cada uma das outras coisas. Esta folha de
papel é porque tudo o mais é.
Suponha que tentemos
retornar um dos elementos à sua fonte. Suponha que nós retornemos ao sol os
seus raios. Você acha que esta folha de papel seria possível? Não, sem os raios
do sol nada pode existir. E se retornarmos o lenhador à sua mãe, então também
não teríamos mais a folha de papel. O fato é que esta folha de papel é
constituída de “elementos não-papel”. E se retornarmos estes elementos
não-papel às suas fontes, então absolutamente não pode haver papel. Sem os
“elementos não-papel”, como a mente, o lenhador, os raios do sol e assim por
diante, não existirá papel algum. Tão fina quanto possa ser esta folha de
papel, ela contém todas as coisas do universo dentro dela.”
Segundo:
De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!
Fernando Sabino, O Encontro Marcado.
Nota:
Trecho adaptado de “III – O Escolhido”, do
livro ‘O Encontro Marcado’, de Fernando Sabino. https://www.pensador.com/frase/Mzk2Nzk2/
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